Porque todo Contador deve conhecer o Blockchain
Em 2008, quando o projeto SPED teve início, com as primeiras Notas Fiscais Eletrônicas emitidas e Escriturações Contábeis Digitais sendo entregues, muitos profissionais acreditavam que essas mudanças ficariam restritas a um seleto grupo de grandes empresas ou que a novidade não iria prosperar. Bem, atualmente é a tecnologia Blockchain que enfrenta a mesma descrença. Mas acredite: a mudança nos processos contábeis será ainda maior com a tecnologia blockchain, se compararmos com o que ocorreu na área fiscal no Brasil com o SPED, pois não estamos falando de uma burocracia ou exigência fiscal. A tecnologia blockchain é tratada como uma tecnologia disruptiva, com potencial de retornos financeiros expressivos devido às mudanças de muitos processos na nossa área.
A base do blockchain é essencialmente um livro-razão compartilhado através de uma rede (privada ou pública). À medida que as transações transferem a propriedade dos saldos, cada bloco representa uma atualização de todos os saldos dos usuários nessa rede, de modo que todos os participantes tenham seu próprio registro separado e idêntico. Os algoritmos subjacentes do blockchain permitem a criação uma rede colaborativa que vai muito além dos bancos de dados tradicionais.
Alguns pesquisadores cunharam o termo “método de partidas triplas” para descrever o funcionamento dos eventos contábeis baseados em blockchain, sendo que neste modelo cada transação envolvendo partes externas são criptograficamente validadas por uma terceira entrada. Um exemplo: em um lançamento contábil de venda, o sistema identifica um débito no registro do vendedor (clientes a receber) e um crédito no registro do comprador (fornecedores a pagar), permitindo a integração imediata de dados, facilitando assim tanto o processamento de dados quanto as auditorias contábeis e fiscais.
Falando em auditorias, todas as grandes empresas do setor já estão experimentando a tecnologia blockchain. Além disso, registros em blockchain já são admitidos na justiça como prova válida. A Receita Federal já está utilizando blockchain para informações fiscais, assim como os projetos b-CPF e b-CNPJ estão em implantação (potencial fim do Certificado Digital como conhecemos hoje).
Lá fora, a SEC está implantando um marco regulatório para produtos e aplicações que tem como base a tecnologia blockchain. Startups e empresas financeiras tradicionais americanas estão ofertando produtos baseados em blockchain, especialmente apoiados pelo tokening, que é uma forma barata e simples de facilitar o acesso a investidores ao mercado real. O banco americano JP Morgan recentemente lançou o JPM Coin, que diferente de outras criptomoedas, é um mecanismo de liquidação interoperável entre instituições financeiras, sem valor especulativo (uma JPM equivale a U$ 1,00). Parcerias público-privadas nos EUA já oferecem blockchain para transferência de títulos de veículos e de propriedade (imagine comprar um imóvel sem precisar ir a um cartório). E por aí vai.
Enfim, a tecnologia blockchain oferece potenciais implicações para uma ampla variedade de setores e profissões, mas especialmente para a profissão contábil. Os profissionais de contabilidade podem até não se tornar especialistas na tecnologia blockchain, mas devem começar a entender seu impacto no seu dia a dia.