“Esperando Godot”
Como nunca havia assistido a uma representação teatral de peças de autoria de Samuel Becket, decidi fazê-lo vendo “Esperando Godot”, aliás muito bem encenada no Teatro Guaíra, em Curitiba.
O tema central da peça é a esperança infinda de dois mendigos amigos, de reencontrarem Godot, supostamente um terceiro mendigo que a estes dois se juntaria para discutirem, por pura falta do que fazer, a importância da vida.
Passam-se duas horas de apresentação e Godot não aparece. E a peça termina sem Godot. A dupla de atores que a conduz do início ao final, decide, em vários momentos, dar um fim àquela vida sem sentido esperando por alguém, ainda que alimentados por uma perspectiva não muito convincente de que Godot cedo ou tarde aparecerá.
E ao término da peça percebemos que a figura de Godot é virtual, ilusória, fantasiosa, servindo apenas de simbologia para “alimentar a esperança”.
Quantas vezes definimos uma meta importante para nós, que sabemos de difícil alcance, e apenas aguardamos sua concretização, torcendo para que tudo dê certo?
Quantas vezes desejamos que alguma situação adversa mude, e simplesmente esperamos essa mudança?
Quantas vezes cremos que uma pessoa vá refletir e alterar para melhor o seu comportamento, e ficamos apenas na torcida para que isto ocorra?
Quantas vezes nos deparamos com as mazelas de nossa cidade e simplesmente reclamamos delas, acreditando que um dia isso vai melhorar?
Preocupou-me sempre a postura do “esperar acontecer”, crendo que, por si só, tudo se ajusta. Incomoda-me constatar, em muita gente, uma eterna e inabalável esperança de “dias melhores”. Eles poderão vir, mas não sem uma ação, uma iniciativa, uma providência de nossa parte.
Muita gente precisa de um Godot para dar sentido à sua vida, na verdade, no entanto o autêntico querer e ações práticas e objetivas é que nos conduzirão ao que almejamos. Sem isto, só nos restará “esperar por Godot”!